A localidade de Mudumeia, no distrito de Chibuto, viveu mais um dia de tensão esta terça-feira, após dezenas de residentes bloquearem o acesso à mineradora Dingsheng Minerais, alegando o incumprimento do pagamento de compensações por perda de terras. As barricadas colocadas na via principal paralisaram totalmente as operações na área mineira e levaram à intervenção da Polícia da República de Moçambique (PRM), que voltou a usar gás lacrimogéneo para dispersar os manifestantes.
De acordo com os residentes, as reivindicações já duram quase uma década e, apesar das inúmeras promessas, o valor das compensações nunca foi pago. “Estamos aqui porque queremos o nosso dinheiro. Não vamos mais aceitar desculpas. Eles tiraram as nossas terras e até hoje não pagaram”, disse um dos populares presentes no protesto. Outro morador reforçou que a tolerância chegou ao limite: “Nós não estamos a impedir o desenvolvimento. Queremos apenas aquilo que nos pertence: compensação e oportunidades de emprego.”
Polícia detém um alegado líder dos protestos
O porta-voz da PRM em Gaza, Júlio Nhamussua, afirmou que o protesto ganhou contornos violentos, impedindo a circulação e bloqueando totalmente a entrada dos trabalhadores da mineradora. Segundo o responsável, um indivíduo foi detido por ser identificado como “cabecilha” do grupo que organizou a paralisação.
“Quando há criação de barricadas e impedimento do direito dos outros, a polícia deve agir. Detivemos o indivíduo para desencorajar ações agressivas”, explicou Nhamussua, acrescentando que a intervenção visou restabelecer a ordem pública.
Comunidade promete manter os bloqueios até haver solução definitiva
Apesar da reação da polícia, os moradores afirmam que não pretendem abandonar o local enquanto não houver garantias concretas. “Vamos continuar aqui. Só saímos quando houver uma resposta clara e definitiva”, disse um dos representantes comunitários.
Este protesto marca a terceira paralisação em menos de um mês, revelando a crescente frustração da população face ao silêncio e à falta de avanços no processo de compensação.
Governo provincial reúne-se para encontrar saída
Em resposta ao clima de tensão, o secretário de Estado da província de Gaza, Jaime Neto, reuniu-se esta quarta-feira com representantes do governo distrital de Chibuto e com a administração da Dingsheng Minerais. Segundo Neto, está a ser preparado um novo plano para responder às exigências comunitárias e evitar que o conflito continue a escalar.
“O compromisso inicial previa 15 milhões de dólares para serem aplicados ao longo de 10 anos. A empresa ficou responsável por elaborar os termos de referência e nós vamos assegurar o acompanhamento rigoroso para garantir que o dinheiro seja usado corretamente”, afirmou.
O governante reconheceu que houve falhas nos procedimentos que permitiram que o problema se arrastasse durante tantos anos. Entretanto, reforçou que, para além das compensações financeiras, a empresa chinesa deve avançar com projetos sociais prometidos às comunidades.
Promessas para 2026: escolas, unidades de saúde e projetos locais
Jaime Neto exigiu que, ainda nos primeiros meses de 2026, a mineradora comece finalmente a materializar investimentos sociais previstos há vários anos, incluindo a construção de uma escola, um hospital e iniciativas de curto e médio prazo que beneficiem diretamente as comunidades afetadas.
Os acordos finais para implementação destes projetos deverão ser assinados em dezembro, num esforço de colocar fim ao impasse entre a população e a mineradora.
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