Israel registou nova manifestação em Telavive, onde famílias e cidadãos exigiram que o Governo recupere os corpos dos dois últimos reféns ainda nas mãos do Hamas. O protesto aumenta a pressão sobre Netanyahu e reabre o debate sobre falhas nas negociações, mesmo após o recente cessar-fogo mediado pelos EUA.
Pelo quarto sábado consecutivo, Telavive tornou a ser palco de um mar de vozes exigindo algo que, para muitos israelitas, deixou de ser negociação política e passou a ser um imperativo moral: a restituição dos dois últimos reféns ainda retidos — ou, neste caso, os seus corpos — pelo Hamas.
O protesto, organizado pelo Fórum das Famílias dos Reféns, mobilizou milhares de pessoas que veem no arrastar deste capítulo um sinal de fragilidade do Governo israelita, cada vez mais pressionado interna e externamente. A manifestação decorre num clima de crescente impaciência, dois anos após o ataque de 07 de Outubro de 2023, que desencadeou a guerra mais longa e devastadora da história recente entre Israel e o Hamas.
Uma exigência que vai além da política: “trazer os nossos para casa”

Apesar do cessar-fogo mediado pelos Estados Unidos, em vigor desde 10 de outubro deste ano, a ferida permanece aberta. O acordo previa a libertação de 48 reféns, dos quais 20 estavam vivos — todos já recuperados.
No entanto, dois corpos permanecem nas mãos do Hamas:
- Ran Gvili, oficial israelita de 24 anos, morto em combate no próprio 7 de outubro;
- Sudthisak Rinthalak, tailandês de 43 anos, um dos muitos trabalhadores estrangeiros que perderam a vida no ataque inicial.
As famílias entendem que Israel tem a responsabilidade — política, militar e emocional — de fechar este ciclo. Para elas, não se trata apenas de repatriar corpos, mas de restaurar dignidade, memória e justiça.
Netanyahu no centro da tempestade
De acordo com a AFP, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu falou diretamente com os familiares de Gvili e com o embaixador da Tailândia, numa tentativa de acalmar tensões e reafirmar o compromisso do Governo em trazer os restos mortais dos dois homens.
Porém, dentro de Israel cresce o sentimento de que as palavras já não bastam. O Governo é acusado de:
- agir lentamente em negociações estratégicas,
- subestimar a dimensão humanitária do conflito,
- e priorizar agendas políticas internas em detrimento das famílias dos reféns.
A oposição ecoa este descontentamento, afirmando que Israel não pode permitir que a guerra termine sem resolver completamente o dossiê dos reféns — vivos ou mortos.
Dois anos de guerra: destruição incomparável

O conflito iniciado em 2023 deixou marcas profundas.
Os números, embora contestados politicamente, são amplamente reconhecidos por organismos internacionais:
- Mais de 1.200 israelitas mortos no ataque inicial do Hamas;
- 251 pessoas sequestradas;
- 70 mil mortos em Gaza, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, dados que a ONU considera credíveis;
- A quase total destruição das infraestruturas do enclave palestiniano;
- Centenas de milhares de deslocados internos, criando a maior crise humanitária regional em décadas.
Mesmo com o cessar-fogo mediado pelos EUA, Israel e Hamas continuam a trocar acusações, denunciando violações diárias da trégua — o que alimenta a perceção de que o acordo é frágil e pode ruir a qualquer momento.
Um símbolo de uma guerra que ainda não terminou
A insistência em recuperar os corpos dos últimos dois reféns tornou-se o símbolo final de um país que procura encerramento, num conflito que reorganizou a política israelita, transformou a geopolítica do Médio Oriente e reacendeu o debate global sobre direitos humanos, proporcionalidade militar e segurança internacional.
Para muitos especialistas, a devolução dos corpos poderia:
- aliviar tensões internas,
- consolidar a credibilidade do cessar-fogo,
- e abrir portas para negociações mais amplas.
Mas enquanto o impasse persiste, Israel continuará a ocupar as ruas — não apenas por protesto, mas por memória coletiva.
Porque, para os manifestantes que voltaram a Telavive, não há paz verdadeira enquanto houver nomes por enterrar.
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