Com a chegada da época chuvosa, o bairro de Nkobe, na cidade da Matola, voltou a posicionar-se no centro das preocupações do município devido ao risco elevado de inundações que, ano após ano, afectam centenas de famílias. A situação tornou-se crítica nas últimas semanas, levando o presidente do Conselho Municipal da Matola, Júlio José Parruque, a intensificar uma intervenção directa no terreno, assumindo um discurso de urgência e responsabilidade partilhada com as comunidades.
Presença contínua no terreno para acelerar decisões
Numa iniciativa inédita, Parruque instalou-se durante sete dias no próprio bairro de Nkobe, acompanhando diariamente as áreas de maior vulnerabilidade. A acção foi interpretada como um sinal de mudança no padrão habitual de respostas tardias, marcadas por visitas curtas e decisões adiadas.
Segundo o edil, a presença prolongada permitiu avaliar com precisão os corredores naturais de drenagem bloqueados, identificar construções erguidas sem autorização e recolher os testemunhos das famílias que convivem há anos com as cheias. “A época chuvosa não espera por relatórios e promessas. Espera por acção. Não podemos ficar só a assistir e lamentar”, declarou.
Demolições, limpeza de valas e mapeamento dos pontos críticos
Entre as primeiras medidas aplicadas no terreno esteve a demolição de casas construídas em zonas de escoamento natural, consideradas essenciais para aliviar a pressão das águas. Embora necessárias, essas intervenções geraram debates entre moradores que reclamam falta de alternativas habitacionais imediatas.
Ao mesmo tempo, equipas técnicas foram destacadas para a limpeza intensiva de valas antigas, remoção de barragens improvisadas e desobstrução de canais que estavam há anos sem manutenção adequada. O município revelou que mais de 1000 famílias vivem actualmente em situações consideradas de “risco severo” e devem ser incluídas num plano estruturado de reassentamento.
“Matola precisa funcionar como uma cidade plena”, diz Parruque
O edil tem insistido que o problema das inundações não se resume a medidas pontuais, mas sim ao modelo de gestão urbana adoptado nas últimas décadas. Para ele, a cidade precisa de assumir uma nova abordagem que priorize drenagem, recolha de resíduos, mobilidade e fiscalização urbanística de forma integrada.
“Uma cidade que cresce sem respeitar os seus corredores de água paga um preço alto. Não nos interessa apontar culpados, mas sim reorganizar a Matola para que funcione como uma cidade completa, preparada para a chuva, para o lixo e para a circulação das pessoas”, afirmou.
Grandes obras de drenagem a caminho
Como resposta estrutural, o município anunciou que já estão mobilizados fundos para iniciar a construção de uma grande vala de drenagem entre Matlemele e Matola-Gare, que deverá beneficiar directamente Nkobe e zonas adjacentes. A obra está inserida no “Projecto de Gestão Integrada das Águas Pluviais da Matola”, que prevê a criação das chamadas “autoestradas das águas” — canais largos e profundos capazes de encaminhar grandes volumes de chuva para áreas seguras.
Parruque destacou ainda que intervenções semelhantes às realizadas no bairro de Fomento — onde obras herdadas do mandato anterior apresentaram resultados positivos — serão replicadas em Nkobe e noutros bairros vulneráveis.

Moradores divididos entre esperança e desconfiança
Apesar do esforço visível no terreno, muitos residentes de Nkobe permanecem reticentes. Há relatos de promessas feitas desde 2014 que nunca avançaram, como reassentamentos planeados e valas de drenagem que ficaram apenas no papel. Alguns moradores afirmam que, sempre que as chuvas chegam, recomeça o ciclo de cheias, perdas de bens, deslocamentos temporários e incertezas.
“Cada ano dizem que agora vai ser diferente, mas as águas voltam a entrar nas nossas casas. Nós queremos acreditar, mas também precisamos de ver resultados concretos”, disse um residente que convive há mais de uma década com as inundações.
Diálogo em vez de confronto
O município tem tentado garantir que as intervenções, especialmente as demolições, ocorram em ambiente pacífico e com diálogo aberto com as comunidades. Parruque tem defendido que o ordenamento territorial deve ser construído com participação, respeito e comunicação constante.
“É fundamental remover obstáculos de forma pacífica e com explicações claras. Não queremos confrontos com os nossos munícipes, queremos reconstruir juntos”, afirmou.
Ofensiva vai avançar para outros bairros críticos
Após Nkobe, o Conselho Municipal já indicou que a ofensiva se estenderá para outros bairros que apresentam riscos semelhantes, com destaque para o bairro da Liberdade, apontado como um dos próximos alvos de intervenção.
O plano inclui reforço da fiscalização, execução prática das valas anunciadas, reorganização das zonas mais afectadas e um programa de reassentamento digno para as famílias que não podem continuar a viver em áreas de alto risco.
Chuva avança, pressão aumenta
Com previsões de chuva intensa para os próximos meses, o município está sob forte pressão para transformar as medidas emergenciais em soluções permanentes. Parruque reconhece que os desafios são extensos, mas sublinha que a Matola precisa avançar com determinação.
“Se queremos quebrar este ciclo de sofrimento anual, temos de agir com coragem e com a participação de todos. A época chuvosa não perdoa indecisões”, concluiu.
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