Moçambique recebeu, esta semana, uma delegação de estudantes do Colégio de Defesa da República Federal da Nigéria, numa iniciativa que visa aprofundar a troca de experiências no sector de defesa e segurança. A visita tem como foco principal compreender como as comunidades podem desempenhar um papel directo na construção da segurança nacional, sobretudo em cenários onde o terrorismo continua a ameaçar vidas, economias e estabilidade.
Durante os encontros, tanto as Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) como os representantes nigerianos convergiram num ponto essencial: nenhum país vence o terrorismo apenas com armas; vence-se com a população ao lado. Para ambos os Estados, a relação entre militares e cidadãos é hoje um elemento estratégico, não apenas complementar.
A delegação nigeriana percorreu várias instituições de ensino militar — entre elas o Instituto Superior de Estudos de Defesa, a Escola de Sargentos, a Escola Prática de Aviação e o Comando da Marinha — onde observou metodologias de formação, doutrinas de resposta e mecanismos de envolvimento comunitário que Moçambique tem vindo a aprimorar após anos de conflito em Cabo Delgado.
Impacto, opinião e análise
Esta cooperação é mais do que uma simples troca de visitas protocolares. Ela sinaliza uma mudança de mentalidade no combate ao extremismo violento:
os governos começam, finalmente, a reconhecer que a segurança não se constrói apenas nos quartéis, mas também nas aldeias, nos bairros e nas comunidades que vivem a realidade do terrorismo na pele.
A experiência de Moçambique em Cabo Delgado e a longa luta da Nigéria contra o Boko Haram revelam uma verdade dura:
- quando as comunidades não são envolvidas, o terrorismo ganha terreno;
- quando são valorizadas, informadas e protegidas, tornam-se aliadas decisivas.
Este tipo de cooperação entre países afectados por insurgências demonstra também que África está a procurar soluções internas, baseadas na própria realidade africana — e não apenas modelos importados que muitas vezes ignoram as dinâmicas locais.
Ao mesmo tempo, esta parceria revela um alerta claro:
nenhum país africano está imune à expansão de grupos extremistas, e por isso, a união estratégica entre Estados pode ser a chave para criar sistemas de segurança realmente eficazes.
No entanto, a eficácia desta troca dependerá da capacidade dos governos de saírem do papel e transformarem boas intenções em políticas concretas: formação contínua, reforço de inteligência, presença militar equilibrada e, sobretudo, integração social das comunidades vulneráveis.
Se Moçambique e Nigéria conseguirem traduzir esta cooperação em acção prática, estarão a dar um passo decisivo não apenas para a sua própria estabilidade, mas para a segurança de toda a região.
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