Manica — A governadora Francisca Tomás protagonizou, esta terça-feira, um dos confrontos mais diretos e tensos entre o Executivo provincial e o setor da Saúde, após denúncias persistentes de esquemas de venda de vagas que têm manchado a imagem da função pública na província.
A reunião, convocada de emergência, teve como alvo os Serviços Provinciais de Saúde e decorreu num ambiente carregado, onde a governadora exigiu explicações sobre alegadas práticas de corrupção que envolvem, supostamente, funcionários do Departamento de Recursos Humanos.

200 mil meticais por uma vaga: o escândalo que abalou a província
Segundo denúncias de cidadãos e trabalhadores do setor, alguns agentes estariam a cobrar valores que chegam a 200 mil meticais para garantir uma vaga na Saúde. Além disso, haveria casos de emissão irregular de guias de marcha, que permitem aos candidatos apresentarem-se nos distritos como se estivessem oficialmente contratados, mesmo antes de qualquer validação no sistema.
Francisca Tomás não poupou críticas:
“Isto tem que acabar. Como é que fazem guias de marcha e mandam candidatos apresentar-se como se já estivessem a trabalhar? Onde está a ética pública?”
Governadora exige nomes: “Se ninguém fala, todos saem”
Com tom firme, a governadora deixou claro que não aceitará silêncio cúmplice. A liderança provincial exige que os próprios funcionários identifiquem quem está por trás dos esquemas, sob o aviso contundente:
“Se não querem denunciar quem está a vender vagas, vocês todos vão sair. Sempre ouvimos notícias de venda de vagas na Saúde — e isso não pode continuar.”
Fontes vinculadas à administração provincial dizem que esta é a primeira vez, em anos, que o Governo de Manica assume uma postura tão confrontativa sobre o tema.

Investigação aponta para “admitidos fantasmas”
Outro ponto preocupante revelado por Francisca Tomás está relacionado a indivíduos que receberam guias de marcha, mas não existem no sistema de pagamentos do Estado. Estes casos levantam suspeitas de admissões clandestinas e manipulação de concursos públicos.
“O Governo já identificou candidatos supostamente aprovados que não constam no sistema para receber salário”, afirmou a governadora, acrescentando que isso demonstra falhas graves de controlo interno.
RH nega envolvimento, mas reconhece rumores
Chamado a esclarecer a situação, Francisco Amadeu Costa, técnico de Recursos Humanos, tentou distanciar o setor das acusações:
“Não temos conhecimento. Eu não sei onde se vendem as vagas, quanto custam ou quem vende.”
Apesar da negativa, o técnico admitiu que escuta frequentemente rumores de esquemas ilícitos envolvendo a Direção Provincial de Saúde:
“Oiço falar que vendem vagas, mas não sei explicar quem é. Há coisas que passam e não vemos.”
A resposta gerou murmúrios na sala e aumentou a pressão sobre o corpo técnico.
Manipulação de resultados revolta população
Francisca Tomás apresentou outro problema grave: candidatos altamente classificados, incluindo aqueles que ficaram nas posições 1, 2 e 3, não foram integrados, enquanto outros com posições inferiores, como o número 20, foram admitidos.
“Como conseguem ficar calados quando a população reclama que seu filho, sobrante número 1 ou número 2, fica de fora, e o número 6 já está a trabalhar?”
A denúncia reforça suspeitas de favorecimento e venda de posições.
Processo segue para combate à corrupção
Com várias queixas já registradas, o Governo Provincial anunciou que irá encaminhar todos os casos às estruturas nacionais responsáveis pelo combate à corrupção, incluindo a Inspeção Geral da Administração Pública e instituições judiciárias.
“Vamos canalizar este assunto ao combate à corrupção. Onde houver problemas dessa natureza, será fácil identificar quem estava envolvido.”
A governadora reafirmou que o objetivo não é punir inocentes, mas garantir que a integridade do setor público seja restaurada.
Uma província à espera de respostas
O caso tem mobilizado atenção nacional, com cidadãos de Manica a exigir transparência total na gestão das vagas na Saúde. A pressão aumenta para que o Governo publique os resultados da investigação e responsabilize, de forma exemplar, todos os envolvidos.
A governadora encerrou a reunião com uma mensagem firme:
“Chegou a hora da verdade para o setor da Saúde em Manica.”
-Esta matéria foi produzida com base em declarações oficiais, documentos públicos e testemunhos recolhidos no local.
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