A Exxon Mobil anunciou a suspensão da declaração de força maior no projeto de Gás Natural Liquefeito (GNL) Rovuma LNG, na Área 4 da Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado. A medida, tornada pública pela Bloomberg nesta quinta-feira (20), marca um passo decisivo para a futura aprovação da Decisão Final de Investimento (IFD) e sinaliza um aumento da confiança na estabilidade da região.
A força maior estava em vigor desde 2021, quando ataques armados perpetrados por grupos afiliados ao Estado Islâmico forçaram a petrolífera norte-americana a interromper as atividades no local. Com a melhoria gradual das condições de segurança, a empresa considera que estão criadas as bases para reavaliar o regresso ao terreno.
Empresa prepara retoma com foco na segurança e no desenvolvimento sustentável
Um porta-voz da Exxon Mobil confirmou que a suspensão já foi efetuada e garantiu que a petrolífera está a trabalhar em estreita colaboração com o Governo de Moçambique e com os seus parceiros internacionais. O objetivo é assegurar um regresso seguro das equipas e avançar com um projeto de GNL “de classe mundial”, capaz de impulsionar o desenvolvimento económico nacional.
Entre os parceiros do empreendimento constam grandes players globais, como a China National Petroleum Corp. (CNPC), Abu Dhabi National Oil Co., Korea Gas Corp. e a italiana Eni SpA.
TotalEnergies já havia retomado o seu processo
A TotalEnergies, responsável pelo megaprojeto de 20 mil milhões de dólares na Área 1 da Bacia do Rovuma, também levantou recentemente a declaração de força maior. Assim, os dois maiores projetos de GNL em Moçambique avançam agora para uma fase de reativação gradual, depois de anos de paralisação.
De acordo com a Bloomberg, tanto o Rovuma LNG (Exxon Mobil) quanto o Mozambique LNG (TotalEnergies) têm previsão de entrada em funcionamento no início da década de 2030, caso não ocorram novos atrasos.
Impacto esperado para a economia moçambicana
A retomada destes projetos é vista como crucial para transformar Moçambique num grande exportador de gás natural nas próximas décadas. As projeções apontam para receitas substanciais e uma alteração estrutural no posicionamento económico do país, que poderá consolidar-se como um dos principais centros de produção de GNL do continente africano.
O Presidente da República, Daniel Chapo, tem reiterado o compromisso do Governo em garantir segurança e estabilidade na província. O Chefe de Estado tem trabalhado com as forças ruandesas e nacionais para estabilizar a região e tem encorajado as empresas a retomarem as operações. Em julho, afirmou que Cabo Delgado já apresenta uma situação “relativamente estável” e que não é necessário esperar por “um paraíso” para dar novos passos.
Projeto Rovuma LNG ganha nova configuração
Com a paralisação prolongada, a Exxon Mobil aproveitou o período para rever e melhorar o desenho técnico do Rovuma LNG. A produção prevista subiu para até 18 milhões de toneladas anuais de gás, um aumento face às 15,2 milhões inicialmente projetadas.
Durante a COP30, em São Paulo, o CEO da Exxon Mobil, Darren Woods, afirmou que a empresa está pronta para avançar rapidamente agora que a força maior foi levantada. Segundo Woods, o tempo de paralisação permitiu aprimorar o conceito do projeto e preparar condições para uma execução mais eficiente.
Exxon mira expansão global até 2030
A petrolífera norte-americana pretende praticamente duplicar o seu portefólio de fornecimento de GNL até 2030, apostando numa procura crescente — estimada em 20% até 2050. O projeto moçambicano é uma peça estratégica nesse plano de expansão.
Com a suspensão da força maior e a reorganização dos projetos globais de gás natural, o Rovuma LNG torna-se novamente um dos pilares do futuro energético da Exxon Mobil. Se os prazos forem mantidos, a produção deverá arrancar já na próxima década, num período em que os mercados globais estarão fortemente abastecidos pelos EUA e pelo Qatar, aumentando a competitividade mas também reforçando a importância de projetos diversificados como o de Moçambique.
Conclusão
A suspensão da força maior representa um marco importante para a indústria extractiva moçambicana. Após anos de incerteza causados pela insegurança em Cabo Delgado, o país volta a ver sinais concretos de revitalização dos megaprojetos de GNL que prometem impulsionar a economia, atrair investimentos e reforçar o papel de Moçambique no mapa energético mundial.
Agora, todas as atenções se voltam para os próximos passos: a decisão final de investimento, a retoma gradual dos trabalhos no terreno e a consolidação da segurança para garantir que este avanço seja sustentável e duradouro.
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