A situação humanitária no distrito de Eráti, província de Nampula, voltou a ganhar destaque após a confirmação da morte de três deslocados internos no centro de Alua, onde mais de 80 mil pessoas procuram abrigo depois de fugirem aos ataques armados em Memba. As vítimas — um idoso e duas pessoas de meia-idade — sucumbiram a um cenário que, segundo autoridades locais, combina fome, desgaste físico e falta geral de condições básicas.
A confirmação foi dada pelo governador de Nampula, Eduardo Abdula, que visitou o centro e reconheceu que a resposta humanitária tem sido insuficiente para fazer face ao número crescente de deslocados. A escassez de alimentos e água potável continua a ser o maior desafio. “Conseguimos garantir cuidados médicos e algum apoio farmacêutico, mas a alimentação não chega para todos. Nem a água é suficiente”, admitiu, sublinhando que, apesar da abertura recente de um novo furo, a pressão sobre os recursos ultrapassa a capacidade instalada.
Mais do que um relato administrativo, a situação em Alua mostra o peso da exaustão emocional e física das populações deslocadas. Muitas famílias vivem há meses num ambiente de incerteza, sem terras para cultivar e sem meios de subsistência, dependendo totalmente de doações. A promessa de retorno às zonas de origem traz esperança, mas para muitos continua a parecer um objetivo distante. “A população quer regressar, está cansada de depender do pouco que chega aqui. Estamos a trabalhar para que o retorno aconteça em segurança e o mais rápido possível”, assegurou Abdula.
Entretanto, iniciativas de solidariedade começam a ganhar força. Segundo o governador, deputados da Assembleia da República mobilizaram cerca de 60 toneladas de produtos alimentares e bens de primeira necessidade, dos quais 32 toneladas já foram entregues no centro. Para Abdula, este gesto demonstra que a sociedade moçambicana continua sensível ao sofrimento dos deslocados, mas admite que o volume de ajuda ainda precisa ser significativamente ampliado.
Opinião e impacto social
As mortes em Alua expõem uma realidade desconfortável: a assistência aos deslocados em Nampula continua muito aquém do necessário. Mesmo com esforços de várias entidades, a pressão humanitária aumenta a cada dia, e a dependência completa da solidariedade nacional e internacional transforma-se num teste contínuo à capacidade de resposta do Estado.
Especialistas defendem que a situação não deve ser vista apenas como um episódio isolado, mas como um alerta sobre a urgência de reforçar políticas de apoio às populações vulneráveis. As mortes por fome, em pleno centro de reassentamento, revelam fragilidades estruturais que precisam ser corrigidas antes que novas tragédias aconteçam.
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