Um rascunho do plano de paz dos Estados Unidos para encerrar a guerra entre Rússia e Ucrânia foi vazado, trazendo medidas sensíveis que incluem a entrega de territórios do Donbas ainda controlados pela Ucrânia e a redução das Forças Armadas ucranianas para 600 mil soldados. O documento, ainda em discussão, levanta dúvidas sobre a viabilidade das propostas e sobre quem seria mais beneficiado.
Principais pontos do plano
O rascunho contém 28 pontos-chave. Alguns são considerados aceitáveis para a Ucrânia, enquanto outros geram controvérsia:
- Soberania e segurança: A soberania ucraniana seria “confirmada”, com um “acordo total de não agressão entre Rússia, Ucrânia e Europa”. Também estariam previstas eleições antecipadas em até 100 dias, e, em caso de nova invasão russa, uma “resposta militar coordenada e robusta” seria acionada, além do restabelecimento de sanções.
- Entrega de territórios: As forças ucranianas teriam que se retirar de parte do oblast de Donetsk ainda sob seu controle, transformando a área em uma zona tampão neutra e desmilitarizada reconhecida como território russo. Isso afetaria cidades estratégicas, como Slovyansk, Kramatorsk, Druzhkivka e Pokrovsk, habitadas por cerca de 250 mil ucranianos.
- Redução militar: O plano limita o efetivo ucraniano a 600 mil soldados, abaixo dos 880 mil registrados em 2024. Para Kiev, qualquer limitação no direito à autodefesa é inaceitável.
- Reconhecimento de territórios: Crimea, Luhansk e Donetsk seriam reconhecidos de facto como russos, sem necessidade de aceitação formal pela Ucrânia. Em outras regiões do sul, como Kherson e Zaporizhzhia, as linhas de frente seriam congeladas.
Futuro estratégico da Ucrânia
O plano propõe que a Ucrânia não entre na Otan, mas continue elegível para adesão à União Europeia e tenha acesso preferencial aos mercados europeus. Também inclui a proibição de tropas da Otan no território ucraniano e compromete Kiev a se tornar um Estado não nuclear.
Reintegração da Rússia e ativos congelados
O documento sugere a reintegração da Rússia à economia global e ao grupo das grandes potências (G8). Propõe ainda a utilização de US$ 100 bilhões em ativos russos congelados em esforços liderados pelos EUA para reconstrução da Ucrânia, com 50% dos lucros destinados aos americanos, enquanto a União Europeia aportaria mais US$ 100 bilhões.
Controvérsias e riscos
Especialistas apontam que o plano favorece Moscou em vários pontos, especialmente na questão territorial. Por outro lado, algumas exigências para a Otan e compromissos de segurança são vagas e podem não agradar ao Kremlin. A Ucrânia e a União Europeia ainda não receberam oficialmente o documento.
Medidas de aparente equilíbrio incluem:
- Distribuição igualitária de eletricidade da usina nuclear de Zaporizhzhia.
- Garantia de direitos à educação e à mídia para falantes de russo e ucraniano.
- Eliminação de medidas discriminatórias contra minorias linguísticas.
Perspectivas
O rascunho ainda é um trabalho em andamento. A aceitação depende da Ucrânia, da resposta da Rússia e do apoio da comunidade internacional. O plano pode afetar a estabilidade global, inclusive influenciando mercados e segurança internacional, o que é relevante para países africanos como Moçambique, que acompanham de perto os impactos geopolíticos e económicos da guerra na Europa.